O que se vê na prática hoje é que muitas empresas ainda não sabem, do ponto de vista organizacional, como acomodar esta função: deve ser implementada numa área específica da empresa? deve permear todas as áreas funcionais da empresa? ou deve ser um meio termo entre estes dois arranjos?
Sem um escopo de trabalho claro, mas principalmente sem uma estratégia corporativa de sustentabilidade bem definida, a tendência é que nenhum dos arranjos se revele mais apropriado que os demais e portanto, dúvidas sobre como nomear a função, onde localizá-la na organização e quem designar para o posto, representam um grande desafio.
Sustentabilidade não é assunto novo no mundo corporativo, que sempre teve um olhar para lucratividade e desempenho econômico no longo prazo. O que é há de novo na pauta da Sustentabilidade é o olhar integrado para um desempenho mais amplo, envolvendo não apenas a dimensão econômica mas igualmente as dimensões social e ambiental. E este novo contexto demanda não apenas uma revisita mas, essencialmente, uma integração entre estratégias de negócio, de marca e de sustentabilidade.
Segundo um estudo publicado pelo Weinreb Group em Setembro de 2011, das cerca de 7.000 empresas de capital aberto registradas na Bolsa de Valores de Nova York - NYSE e NASDAQ - apenas 29 contavam com um CSO instituído. Um problema - dada a urgência de alguns dos temas na agenda destas áreas - porém não menos importante, uma grande oportunidade para profissionais de sustentabilidade.
Uma constatação interessante é que muitas outras empresas já contam com líderes de sustentabilidade - a diferença é que eles não contam com o empowerment de uma posição de primeiro escalão. O posicionamento organizacional da função diz muito sobre o estágio de maturidade e nível de integração do tema na agenda corporativa. Algumas das principais constatações sobre a função do líder de sustentabilidade incluem:
- É uma função em ascensão do ponto de vista organizacional. Cada vez mais são designados executivos mais altos na hierarquia, em oposição a posições tradicionalmente mais baixas;
- Requer um bom nível de conhecimento do negócio da empresa. Em geral, líderes de sustentabilidade são designados internamente;
- Conta com poucos recursos (FTEs). A área em si centraliza alguns temas como a execução da governança e indicadores/relatórios, mas em geral coordena trabalhos colaborativos contando com as equipes das áreas funcionais;
- Participa do processo decisório de assuntos corporativos, em comitês executivos não apenas relacionados a sustentabilidade;
- Precisa navegar bem em temas como comunicação executiva e relações institucionais.
Como seria de se esperar dado o estágio de maturidade inicial de sua implementação, não existem ainda melhores práticas reconhecidas nem casos de sucesso a serem perseguidos para um desempenho excelente da função. Apesar disso, algumas características já são reconhecidas como indispensáveis no perfil do líder de sustentabilidade, dentre eles:
- Habilidade para gerenciar mudanças. Boa parte do trabalho diz respeito a catalisar mudanças (sem necessariamente colher os créditos por elas);
- Capacidade de pensar sistemicamente. Não existem respostas fáceis em sustentabilidade muito menos soluções pontuais, sem impacto;
- Habilidade para transformar oportunidades externas em inovação interna. Desafios do mercado, mudanças no comportamento do consumidor, exigências legais e regulatórias, todos têm potencial de alavancar inovação interna;
- Capacidade de assumir riscos. Novamente, não existem respostas fáceis, portanto é preciso assumir riscos e engajar especialistas, buscar recomendações, e com a mesma coragem, admitir erros e corrigi-los;
- Habilidade para engajar recursos tangíveis e intangíveis. Sendo áreas enxutas, mobilizar e orquestrar bem o uso de recursos da empresa é chave para atingir resultados.
O tema já atrai a atenção de muitos profissionais, leva outros tantos a buscar educação para lidar com seus muitos assuntos - a oferta de cursos de pós-graduação em Sustentabilidade em São Paulo, por exemplo, nunca foi tão grande - e outros ainda a iniciar suas jornadas de movimentação de carreira tanto para funções ligadas direta ou indiretamente com sustentabilidade, quanto para empresas mais socialmente responsáveis.
Como mencionado no início deste post, os desafios são muitos e muitos deles urgentes. Esperemos que nossas empresas entendam e se engajem rapidamente neste processo. O bom resultado terá sido bom para todos.