Foto da Galeria do website da Organização Muhammad Yunus. |
Na visão de Yunus, negócios sociais são aqueles que existem para atingir um objetivo social, beneficiando as pessoas e o planeta. Empresas sociais são criadas para endereçar um problema social que pode estar localizado em quaisquer áreas da atividade humana: educação, saúde, moradia, acesso a tecnologia, meio ambiente, e outras. Não são criadas para perseguir lucro nem dividendos, sendo esta sua segunda característica fundamental. No mais, perseguem o que as empresas tradicionais deveriam perseguir: são auto-sustentáveis do ponto de vista econômico, competem no mercado, pagam salários e oferecem benefícios justos.
Antes de mais nada, empresas sociais existem para superar a pobreza. Mas importante: o conceito de empresas sociais não se propõe a ser uma evolução nem mesmo inovação do conceito de empresa. Não se trata de considerar converter uma empresa tradicional numa social, acomodar a co-existência de ambos os modelos, e nem mesmo de abrir mão da empresa tradicional.
A propósito, com alguma licença poética poderíamos arriscar um palpite de que o conceito de triplo bottom-line - ou seja o desempenho em 3 dimensões: econômica, social e ambiental - tão em evidência nos dias de hoje, talvez não passe de uma missão complexa demais de acomodar a maximização do lucro numa empresa tradicional respeitando ainda o meio ambiente e as comunidades que impactam e são impactadas pelo negócio.
Para Yunus, o conceito de empresa social deve ser adotado quando o objetivo é fazer algo, endereçar, um problema social que nos preocupa - paralelamente a permanecer engajado na rotina do negócio tradicional. Porém, ambos devem permanecer negócios independentes: lucro e benefício social não deveriam se misturar, por princípio. Com isso, cai também aqui a questão do "ter bom resultado fazendo o bem" - ou na expressão original em inglês "doing well by doing good". Não tem nada de errado com empresas que tentam acomodar estas duas questões, mas dilemas relacionados à maximização do lucro não deveriam fazer parte da agenda das decisões administrativas de uma empresa social. Não se trata de tentar acomodar objetivos novos no jeito tradicional de se tocar uma empresa.
O Prêmio Nobel da Paz foi concedido em 2006 para o Grameen Bank e seu idealizador, o professor Yunus. Mais que nada, trouxe notoriedade e colaboração para a causa das empresas sociais. Exemplos de empresas sociais em plena operação hoje em Bangladesh - inicialmente financiadas pelo Grameen Bank, que pertence 97% aos pobres daquele país e 3% ao governo local - são vários e incluem empresas atuando em painéis solares (energia), telefonia (a Grameen Phone tornou-se a maior empresa do ramo no país), nutrição (Danone-Grameen), água (Grameen-Veolia), tecnologia de informação (Grameen-Intel). Vale lembrar que o objetivo destas empresas é endereçar temas fundamentais e recorrentes da população pobre que vive em vilarejos rurais no país. E vale ainda acrescentar que atualmente o conceito encontra-se adotado e em operação e a serviço da erradicação da pobreza em mais de 100 países do mundo, incluindo países ricos.
Para fechar, uma última nota: entre as dezenas de prêmios e reconhecimentos internacionais recebidos pelo professor Yunus, encontrei uma Medalha de Honra, concedida em 2007, para minha surpresa não pelo Governo Federal mas pelo governo do estado de Santa Catarina. Pesquisando um pouco mais, recuperei também os discursos da Sessão Plenária no Senado Federal, em junho de 2008, e entre eles o do Yunus. Um dos poucos textos completos, totalmente em português - o que deve facilitar a leitura de muitos.
É isso por hoje. Espero que este post possa ter ajudado a compartilhar o conceito e espero também que cada vez mais vejamos personalidades do mundo corporativo, outros talentos, e nós mesmos, profissionais de todas as áreas, dedicando tempo e habilidades para o bem maior de construir um mundo livre de miséria.
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