Não, ainda não estamos nos referindo a processos futuristas para transporte instantâneo de pessoas entre localidades e eras; trata-se aqui de promover uma drástica descontinuação do meio físico substituindo-o tanto quanto possível pelo meio digital.
Notem que esta ideia não é exatamente nova. Para quem acompanha tecnologia há mais tempo, talvez se lembre do norteamericano professor do MIT, Nicolas Negroponte, que já na década de 80 discutia sobre a digitalização da vida. Considerado um verdadeiro paladino da era digital, uma vez que suas ideias permanecem válidas até hoje, em seu livro Being Digital publicado em 1996, Negroponte explica sua teoria da digitalização da vida em 3 estágios:
- Era industrial ou era do átomo, com produtores veiculando informações através de meios de comunicação em massa - aqui o público é apenas receptor;
- Era da informação, onde ainda predominam meios de comunicação de massa mas com fluxo muito mais dinâmico;
- Era da pós-informação, onde o consumo ocorre "por encomenda" e com uso de inteligência artificial em vários setores da vida social.
O objetivo das pesquisas de Negroponte, em seu MediaLab no MIT, era viabilizar o sonho de "um laptop por criança", naturalmente a um custo realizável para promover inclusão digital de larga escala entre as crianças norteamericanas.
Notem que esta iniciativa está perfeitamente alinhada com os desafios de sustentabilidade do planeta que enfrentamos hoje, na medida em que desmaterialização promovida por meio de tecnologia, tem na inclusão digital uma condição necessária, sine qua non.
De acordo com dados do Painel Ambiental das Nações Unidas, em 2010 a civilização industrial consumia 50 bilhões de toneladas entre minerais, minérios, combustíveis fósseis e biomassa, por ano. Se nada mudar na abordagem de consumo, em 2050 serão necessários cerca de 140 bilhões de toneladas deles para sustentar nossa operação anual - algo que o Planeta não consegue prover sem abrir mão drasticamente de sua capacidade de regeneração. Portanto, desmaterialização é um tema urgente na agenda do Planeta!
Na prática, desmaterialização significa reduzir nossa dependência de recursos físicos ou átomos. Receber e pagar contas por email/internet banking, preferir música online ao invés de comprar CDs/DVDs, compartilhar fotos online ao invés de imprimir e manter álbuns físicos, adotar sacolas retornáveis ao invés das plásticas, praticar a regra dos erres: reduzir-reusar-reciclar... são apenas alguns exemplos.
E se você está se perguntando se isso não parece pouco frente ao desafio imenso de redução de consumo que temos em mãos, em princípio tem um ponto. Isso porque, de fato, apesar de fundamentais, estas práticas, por si, não vão nos trazer o volume de desmaterialização necessário para lidar com a "fome" de recursos do mundo moderno. Mas então, pense novamente: a desmaterialização absoluta, ou seja, a substituição que tratamos até aqui é fundamental menos por seus impactos absolutos, mas muito mais pelos seus impactos relativos. Não entendeu? Então imagine o quanto é possível reduzir a demanda de recursos envolvidos na produção, entrega e destinação final dos produtos físicos - da carta, da produção do CD, das sacolas plásticas.
Esta é a conta que precisamos ter em mente para falar em desmaterialização. E é para racionalizar estes impactos relativos que tecnologia e inovação estão sendo convocados a trabalhar juntos em favor do Planeta. Eis o desafio.
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