19 Jun 2012

Uma estória de 3 cidades


Há 4 dias do encerramento da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, muitas opiniões pautam as percepções dos que acompanham o progresso das discussões e compromissos - boa parte delas desencorajadoras. Um dos pontos de vista que me pareceu mais interessante foi de Oliver Greefield, o líder da Coalisão Economia Verde (Green Economy Coalition), numa entrevista "off the records" concedida para Jo Cofino, jornalista do The Guardian Sustainable Business, de Londres.

Transcrevo abaixo suas palavras, na declaração feita ontem 18 de junho:

"A estória de 2012 pode ser vista como um conto de 3 cidades. Davos, o fórum econômico mundial, onde a poderosa elite econômica mundial faz acordos e discute como novos riscos sistêmicos ameaçam seu sucesso econômico.
A segunda, Porto Alegre, o fórum social mundial, onde a conclusão é que o capitalismo não está funcionando, a globalização recompensa muito poucos e prejudica a condição de vida de muitos. Estas duas cidades representam os extremos de um mundo polarizado. As fissuras entre ambos são evidentes em ocupação, austeridade, desemprego entre os jovens, falhas na confiança econômica.
A terceira, Rio, fica entre estes dois polos, com uma agenda para uma nova economia, definida por justiça, inclusão e um melhor relacionamento com a natureza. Conseguirá esta cidade e esta conferência fazer nascer uma nova visão econômica que possa aproximar os polos e forjar um futuro melhor para todos?
A comunidade de Porto Alegre não está convencida. É tinta verde, face verde do mesmo velho poder. É a comoditização da natureza. Não confiam que políticos possam forjar uma nova economia. Para a comunidade de Davos, Rio não conta, muitos negócios não comparecem assim como muitos dos primeiros ministros que fazem fila em Davos.
Mas estamos aqui e o que vemos? Nações discutindo e evitando se comprometer com acordos que possam ameaçar a proteção de suas liberdades econômicas. Interesses próprios nacionais não somam para um senso comum global.
Mas a Rio+20 importa porque é a única autêntica discussão aberta sobre uma nova economia. É uma pedra inaugural e não um ponto de retorno. A visão está emergindo, com dor. As fundações estão sendo deixadas para o próximo estágio - o engajamento político do poder econômico que não compareceu e as pessoas que ainda estão excluídas."

Não parece muito - e de fato, talvez não seja mesmo. Mas tendo a concordar com Oliver Greefield, afinal toda grande caminhada começa com os primeiros passos. Rio é o único forum multilateral a ter na agenda uma discussão compartilhada sobre a nova economia. Os compromissos resultantes podem ser tímidos, mas já terão sido muito mais do que o nada na pauta de Davos ou Porto Alegre neste sentido.

11 Jun 2012

Pilhas comuns já podem ser descartadas no lixo doméstico

As resoluções já são antigas - datam de 1999, portanto há 13 anos - mas as dúvidas sobre descarte apropriado de pilhas e baterias permanecem na ponta onde menos deveriam: no consumidor final. De acordo com a Resolução 257 - posteriormente complementada pela 263 - do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), pilhas e baterias deveriam ter descarte à parte do sistema tradicional, que as leva juntamente com os resíduos domiciliares direto para os aterros sanitários.

Porém, a resolução se aplica apenas àquelas pilhas e baterias que apresentarem em sua composição níveis de componentes químicos - chumbo, cádmio e mercúrio - acima do estipulado. A questão é que hoje, em 2012, fabricantes e importadores de pilhas comuns e alcalinas já comercializam itens totalmente aderentes aos limites estipulados, portanto deste ponto de vista, sem necessidade específica de descarte/coleta especial. Na prática, apenas as baterias de celulares, automotivas e industriais demandariam hoje coleta especial.

A resolução determina que os fabricantes indiquem claramente nas embalagens se a pilha/bateria pode ou não ser descartada no lixo domiciliar - algo que particularmente, como consumidora, não vejo acontecer sempre.

Lembrando que a grande questão associada ao descarte das pilhas e baterias é que elas liberam componentes tóxicos - contaminando solo, cursos d'água e lençóis freáticos, ar (quando queimadas em incineradores), com impactos para fauna e flora - que em última instância afetam o sistema nervoso central, rins, fígado e pulmão, vez que são bioacumulativos.

Portanto, fica a pergunta sobre o novo papel dos pontos de coleta de pilhas hoje instalados em supermercados, agências bancárias e assistências técnicas - no mínimo, precisarão de ajustes físicos e de processo logístico para acomodar itens com porte e volume diferentes do que foram inicialmente projetados para acomodar.

Isso e o sempre famigerado ajuste necessário na comunicação da nova realidade através de campanhas de conscientização que esclareçam e instruam aquela ponta que faz a diferença no resultado sustentável: o consumidor.

Serviço: parecer da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo sobre o tema da coleta seletiva de pilhas e baterias.