3 Dec 2012

Only humans #1 Falta total de compromisso para o tema do clima

Simulação de Nova York
alagada. Fonte desconhecida.
O New York Times de ontem traz uma matéria patética para olhos que estão há mais tempo seguindo o noticiário sobre aquecimento global: os americanos estão preocupados em como atenuar o problema numa situação recorde de emissões de dióxido de carbono. Acho engraçado ler americano falando em "esforço de mitigação global" quando os Estados Unidos apresentam índices constrangedores de progresso na redução de emissões... Sempre dá para jogar o holofote no carvão queimado na China e Índia - a propósito, exemplos de países para onde foram "terceirizadas" operações poluidoras dos países ricos - mas a pergunta que fica é: até quando vamos tapar o sol sem peneira, como diria Millôr Fernandes?
***
Matéria de hoje publicada por uma correspondente do Valor Econômico em Doha, diz que os países ricos rejeitam investir para financiar adaptação às mudanças nos países mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global. Notem que já passamos das discussões de redução de emissões para a adaptação às mudanças - um sinal claro de reconhecimento de incapacidade de articulação para redução de emissões... No contexto, realmente não entendo por que este pessoal gasta tempo e dinheiro para a ir a Doha se não pretendem firmar compromisso algum e muito menos ajudar os países mais vulneráveis ao risco que eles próprios (leia-se, países ricos) negligentemente fazem aumentar dia após dia. Patético.

26 Sept 2012

Educação Aberta: Cursos Online Gratuitos

Conversando estes dias com um amigo sobre cursos gratuitos online, acabei por fazer uma pesquisa mais elaborada sobre o tema e achei que valia a pena aproveitar o ensejo e compartilhar a informação aqui no ThinkingBiz.

Para quem ainda não conhece, existe uma iniciativa recente suportada por renomadas instituições de ensino ao redor do mundo, lançada com o nome de Open Courseware Consortium (e também conhecida pela sigla OCW). Esta plataforma nada mais é do que um espaço compartilhado por universidades e outras instituições de ensino, para disponibilizar conteúdos educacionais de qualidade, para acesso livre, online e gratuito. Atualmente, congrega membro de mais de 250 instituições ao redor do mundo.

Estes conteúdos são organizados em cursos e estão disponíveis em vários formatos de mídia - videos, audio, artigos, livros, entre outros - e cobrem uma longa lista de áreas do conhecimento (finanças, educação, direito, economia, história, entre outros). Além disso, tem cursos disponíveis em vários idiomas (mais de 17), incluindo português.

O catálogo de cursos está disponível no website da OCW - que infelizmente no momento não está disponível em português. Então para facilitar configurei a busca para que você encontre a lista de atual de cursos disponíveis em português aqui.

Algumas instituições brasileiras já membros da OCW e com conteúdo publicado ainda não estão integradas na ferramenta de busca do website. Para facilitar, compilei abaixo dados de acesso para estes materiais:
  • Colégio Visconde de Porto Seguro, a primeira escola de educação básica do mundo a aderir ao OCW. Disponibiliza cursos de álgebra e gramática (lista completa)
  • Escola Superior de Administração e Gestão (ESAGS), presente em Santo André e Santos. Disponibiliza cursos de gestão e design de apresentações (lista completa)
  • Fundação Getúlio Vargas (FGV), a primeira entre as instituições brasileiras a aderir ao OCW, membro desde 2008. Disponibiliza cursos de gestão, sustentabilidade, finanças e outros (lista completa)
  • Universidade do Sul de Santa Catarina (UniSul). Disponibiliza cursos de gestão, TI e multimídia (lista completa);
A oferta é grande, variada e de qualidade. Basta se inscrever e estudar online. Ao final, ainda é possível receber Certificado de Conclusão do curso, se você tiver bom desempenho no teste online pós-curso.

Particularmente, completei alguns desta oferta de cursos online gratuitos e gostei muito do que vi. Aos meus olhos, as iniciativas do Movimento de Educação Aberta são excelentes promotores da democratização do acesso a conteúdos de qualidade. Vale o aplauso!

Serviço: Para saber mais sobre Recursos Educacionais Abertos visite o website do movimento no Brasil.

19 Sept 2012

Afinal, o que é uma empresa social?

Foto da Galeria do website da
Organização Muhammad Yunus.
O conceito de empresas sociais foi idealizado - e vem sendo demonstrado na prática com muito sucesso - pelo economista e banqueiro bengali Muhammad Yunus, que na década de 70 criou o conceito de "microcrédito". Mas, o que é um negócio social?

Na visão de Yunus, negócios sociais são aqueles que existem para atingir um objetivo social, beneficiando as pessoas e o planeta. Empresas sociais são criadas para endereçar um problema social que pode estar localizado em quaisquer áreas da atividade humana: educação, saúde, moradia, acesso a tecnologia, meio ambiente, e outras. Não são criadas para perseguir lucro nem dividendos, sendo esta sua segunda característica fundamental. No mais, perseguem o que as empresas tradicionais deveriam perseguir: são auto-sustentáveis do ponto de vista econômico, competem no mercado, pagam salários e oferecem benefícios justos.

Antes de mais nada, empresas sociais existem para superar a pobreza. Mas importante: o conceito de empresas sociais não se propõe a ser uma evolução nem mesmo inovação do conceito de empresa. Não se trata de considerar converter uma empresa tradicional numa social, acomodar a co-existência de ambos os modelos, e nem mesmo de abrir mão da empresa tradicional.

A propósito, com alguma licença poética poderíamos arriscar um palpite de que o conceito de triplo bottom-line - ou seja o desempenho em 3 dimensões: econômica, social e ambiental - tão em evidência nos dias de hoje, talvez não passe de uma missão complexa demais de acomodar a maximização do lucro numa empresa tradicional respeitando ainda o meio ambiente e as comunidades que impactam e são impactadas pelo negócio.

Para Yunus, o conceito de empresa social deve ser adotado quando o objetivo é fazer algo, endereçar, um problema social que nos preocupa - paralelamente a permanecer engajado na rotina do negócio tradicional. Porém, ambos devem permanecer negócios independentes: lucro e benefício social não deveriam se misturar, por princípio. Com isso, cai também aqui a questão do "ter bom resultado fazendo o bem" - ou na expressão original em inglês "doing well by doing good". Não tem nada de errado com empresas que tentam acomodar estas duas questões, mas dilemas relacionados à maximização do lucro não deveriam fazer parte da agenda das decisões administrativas de uma empresa social. Não se trata de tentar acomodar objetivos novos no jeito tradicional de se tocar uma empresa.

O Prêmio Nobel da Paz foi concedido em 2006 para o Grameen Bank e seu idealizador, o professor Yunus. Mais que nada, trouxe notoriedade e colaboração para a causa das empresas sociais. Exemplos de empresas sociais em plena operação hoje em Bangladesh - inicialmente financiadas pelo Grameen Bank, que pertence 97% aos pobres daquele país e 3% ao governo local - são vários e incluem empresas atuando em painéis solares (energia), telefonia (a Grameen Phone tornou-se a maior empresa do ramo no país), nutrição (Danone-Grameen), água (Grameen-Veolia), tecnologia de informação (Grameen-Intel). Vale lembrar que o objetivo destas empresas é endereçar temas fundamentais e recorrentes da população pobre que vive em vilarejos rurais no país. E vale ainda acrescentar que atualmente o conceito encontra-se adotado e em operação e a serviço da erradicação da pobreza em mais de 100 países do mundo, incluindo países ricos.

Para fechar, uma última nota: entre as dezenas de prêmios e reconhecimentos internacionais recebidos pelo professor Yunus, encontrei uma Medalha de Honra, concedida em 2007, para minha surpresa não pelo Governo Federal mas pelo governo do estado de Santa Catarina. Pesquisando um pouco mais, recuperei também os discursos da Sessão Plenária no Senado Federal, em junho de 2008, e entre eles o do Yunus. Um dos poucos textos completos, totalmente em português - o que deve facilitar a leitura de muitos.

É isso por hoje. Espero que este post possa ter ajudado a compartilhar o conceito e espero também que cada vez mais vejamos personalidades do mundo corporativo, outros talentos, e nós mesmos, profissionais de todas as áreas, dedicando tempo e habilidades para o bem maior de construir um mundo livre de miséria.

17 Sept 2012

Sustentabilidade & Inovação

Realizada anualmente desde 2004, a SemEP (Semana da Engenharia de Produção) - um projeto de extensão conjunto das duas universidades públicas de São Carlos: USP e UFSCar - chegou em 2012 à sua IX edição. Na agenda dos Workshops de 2012, tive a grata felicidade de contribuir com o tema Sustentabilidade e Inovação, a convite da organização.

Contando com estudantes de vários cursos - entre eles: Engenharia de Produção, Matemática e Gestão de Meio Ambiente - refletimos juntos sobre o papel das empresas no desenvolvimento sustentável e principalmente como a sustentabilidade está relacionada com a estratégia e a inovação de seus processos, produtos e negócios. Também revisamos alguns Relatórios de Sustentabilidade e casos práticos de empresas que já incorporam sustentabilidade em seus processos de inovação.

Aproveito o espaço neste blog para compartilhar o material de suporte que foi por mim construído para direcionar as discussões. Ele está dividido em duas partes - uma mais introdutória, outra mais específica - e traz um pouco do que há de mais novo no tema e algumas atividades práticas para melhor assimilação.

Exceto quando explicitamente sinalizado em contrário, o material contém informações e ideias proprietárias - por favor, caso queira usar algo conto com sua colaboração para autorizar previamente comigo - e também peço que a fonte seja indicada claramente.

Comentários e discussões sobre o material são muito bem-vindos!

Boa leitura :)

19 Jun 2012

Uma estória de 3 cidades


Há 4 dias do encerramento da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, muitas opiniões pautam as percepções dos que acompanham o progresso das discussões e compromissos - boa parte delas desencorajadoras. Um dos pontos de vista que me pareceu mais interessante foi de Oliver Greefield, o líder da Coalisão Economia Verde (Green Economy Coalition), numa entrevista "off the records" concedida para Jo Cofino, jornalista do The Guardian Sustainable Business, de Londres.

Transcrevo abaixo suas palavras, na declaração feita ontem 18 de junho:

"A estória de 2012 pode ser vista como um conto de 3 cidades. Davos, o fórum econômico mundial, onde a poderosa elite econômica mundial faz acordos e discute como novos riscos sistêmicos ameaçam seu sucesso econômico.
A segunda, Porto Alegre, o fórum social mundial, onde a conclusão é que o capitalismo não está funcionando, a globalização recompensa muito poucos e prejudica a condição de vida de muitos. Estas duas cidades representam os extremos de um mundo polarizado. As fissuras entre ambos são evidentes em ocupação, austeridade, desemprego entre os jovens, falhas na confiança econômica.
A terceira, Rio, fica entre estes dois polos, com uma agenda para uma nova economia, definida por justiça, inclusão e um melhor relacionamento com a natureza. Conseguirá esta cidade e esta conferência fazer nascer uma nova visão econômica que possa aproximar os polos e forjar um futuro melhor para todos?
A comunidade de Porto Alegre não está convencida. É tinta verde, face verde do mesmo velho poder. É a comoditização da natureza. Não confiam que políticos possam forjar uma nova economia. Para a comunidade de Davos, Rio não conta, muitos negócios não comparecem assim como muitos dos primeiros ministros que fazem fila em Davos.
Mas estamos aqui e o que vemos? Nações discutindo e evitando se comprometer com acordos que possam ameaçar a proteção de suas liberdades econômicas. Interesses próprios nacionais não somam para um senso comum global.
Mas a Rio+20 importa porque é a única autêntica discussão aberta sobre uma nova economia. É uma pedra inaugural e não um ponto de retorno. A visão está emergindo, com dor. As fundações estão sendo deixadas para o próximo estágio - o engajamento político do poder econômico que não compareceu e as pessoas que ainda estão excluídas."

Não parece muito - e de fato, talvez não seja mesmo. Mas tendo a concordar com Oliver Greefield, afinal toda grande caminhada começa com os primeiros passos. Rio é o único forum multilateral a ter na agenda uma discussão compartilhada sobre a nova economia. Os compromissos resultantes podem ser tímidos, mas já terão sido muito mais do que o nada na pauta de Davos ou Porto Alegre neste sentido.

11 Jun 2012

Pilhas comuns já podem ser descartadas no lixo doméstico

As resoluções já são antigas - datam de 1999, portanto há 13 anos - mas as dúvidas sobre descarte apropriado de pilhas e baterias permanecem na ponta onde menos deveriam: no consumidor final. De acordo com a Resolução 257 - posteriormente complementada pela 263 - do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), pilhas e baterias deveriam ter descarte à parte do sistema tradicional, que as leva juntamente com os resíduos domiciliares direto para os aterros sanitários.

Porém, a resolução se aplica apenas àquelas pilhas e baterias que apresentarem em sua composição níveis de componentes químicos - chumbo, cádmio e mercúrio - acima do estipulado. A questão é que hoje, em 2012, fabricantes e importadores de pilhas comuns e alcalinas já comercializam itens totalmente aderentes aos limites estipulados, portanto deste ponto de vista, sem necessidade específica de descarte/coleta especial. Na prática, apenas as baterias de celulares, automotivas e industriais demandariam hoje coleta especial.

A resolução determina que os fabricantes indiquem claramente nas embalagens se a pilha/bateria pode ou não ser descartada no lixo domiciliar - algo que particularmente, como consumidora, não vejo acontecer sempre.

Lembrando que a grande questão associada ao descarte das pilhas e baterias é que elas liberam componentes tóxicos - contaminando solo, cursos d'água e lençóis freáticos, ar (quando queimadas em incineradores), com impactos para fauna e flora - que em última instância afetam o sistema nervoso central, rins, fígado e pulmão, vez que são bioacumulativos.

Portanto, fica a pergunta sobre o novo papel dos pontos de coleta de pilhas hoje instalados em supermercados, agências bancárias e assistências técnicas - no mínimo, precisarão de ajustes físicos e de processo logístico para acomodar itens com porte e volume diferentes do que foram inicialmente projetados para acomodar.

Isso e o sempre famigerado ajuste necessário na comunicação da nova realidade através de campanhas de conscientização que esclareçam e instruam aquela ponta que faz a diferença no resultado sustentável: o consumidor.

Serviço: parecer da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo sobre o tema da coleta seletiva de pilhas e baterias.

29 May 2012

Economia verde? Não. Azul!

A melhor explicação de economia sustentável que vi até agora é esta aqui abaixo, num video ao estilo commoncraft feito pela The Blue Economy. Até pensei em escrever uma resenha, mas sinceramente acho que o video de 3:26 minutos diz tudo - então como contribuição deixo uma transcrição para o português. Confira!

***
Transcrição para o português [por Sheila Maceira]:

Este video explica a Economia Azul.
Este é o nosso planeta. Claro que queremos preservá-lo para as gerações futuras e então escolhemos: produtos saudáveis e naturais, comida orgânica, energia solar e sabonetes biodegradáveis. Porém estes produtos são mais caros.
Produtos piores para sua saúde e que degradam o meio ambiente são mais baratos. Produtos melhores para a saúde e que preservam o meio ambiente são mais caros. Apesar de mais interessante, muitos de nós não podem pagar por esta economia verde.
Pior, algumas coisas que parecem ser boas para nós e para a natureza, na verdade não são nenhum dos dois. Sabonetes biodegradáveis usam óleo de palma de plantações que destroem as florestais tropicais. Energia solar, há decadas depende de subsídios que demandam impostos. Bioplásticos competem com comida. Comida orgânica viaja o mundo afetando o clima. Então não se trata de ser caro apenas, às vezes também não é inteligente. É preciso ser mais criativo, para fazer melhor.
É preciso abrir os olhos para ver o que temos. Por exemplo: em nosso café da manhã, realmente usamos apenas 0,2% do pó. O que fazemos com os 99,8% restantes? Jogamos fora? Podemos usar este pó para semear cogumelos e alimentar animais com o restante. Animais produzem esterco, e as bactérias podem gerar biogás a partir deste esterco. O que parecia apenas lixo, mas hoje todos sabemos que este lixo pode gerar comida, energia e postos de trabalho.
Existem muitas oportunidades, uma vez que voltemos nosso olhar para elas. É muito claro que podemos transformar miséria em desenvolvimento, escassez em abundância. Se pudermos fazer o bolo maior, fica mais fácil dividir com todos.
Apesar disso, muitas pessoas têm boas ideias - mas também precisamos de pessoas que façam acontecer. Precisamos destes empreendedores, na verdade, precisamos de uma geração inteira de empreendedores. Eles não se importam porquê as maçãs caem da árvore. Newton já desvendou este mistério há muitos anos atrás. Eles querem saber como as maçãs subiram na árvore, definir a lei da gravidade.
Estes inovadores pensam como David contra Golias, que com pouca experiência e dinheiro, mudam as regras e o jogo - e geram mais dinheiro para eles mesmos e para suas comunidades - o que deixa todos satisfeitos. Este é o objetivo: tornar as pessoas saudáveis e felizes, com o que nem sabíamos que tínhamos.
Por que afinal das contas, o céu é azul, o oceano é azul e nosso planeta - como visto a partir do espaço - é também azul. E é porisso que chamamos esta economia de azul. E ela apenas começou. Para mais informações, visite zeri.org.

16 May 2012

Estudo do MIT prova que Sustentabilidade gera Lucro

Boas novas na área de Sustentabilidade foram reveladas com a publicação da terceira edição do Estudo Executivo Global de Sustentabilidade e Inovação, conduzido pelo MIT Sloan Management Review, com o apoio do The Boston Consulting Group.

O estudo foi feito com base em pesquisas com gerentes e executivos de companhias, alcançando 4.000 respondentes em 113 países. Entre as boas notícias está a evidência da relação direta entre investimento responsável em sustentabilidade e lucratividade: 33% das empresas participantes da pesquisa já comprovam que este investimento se paga e contribui para a lucratividade.

De acordo com a amostra, 70% das empresas já incluiu o tema sustentabilidade em suas agendas permanentes. Em tempos de vacas magras, onde seria esperada uma baixa nestes investimentos, a realidade mostra justamente o contrário: apesar de não figurar entre os itens mais prioritários da agenda (em geral, ficou na oitava posição do ranking geral de prioridades), o tema ganha cada vez mais compromisso e recursos.

Esta tendência se verifica em todas as indústrias, embora tenha mais força naquelas mais intensivas no uso de recursos - energia e utilidades, bens de consumo, commodities, químicas e automotivas. Neste tipo de indústria há muita incerteza sobre o futuro das regulamentações ambientais, e algumas empresas estrategicamente já se antecipam na construção de reputação e relacionamento junto a ONGs e governos. Entre as lanternas do ranking, estão as indústrias de tecnologia e serviços, que ainda não percebem sustentabilidade como requisito para competitividade, embora comparativamente a edições anteriores, esta situação é cada vez menos comum.

Entre os principais direcionadores externos para o investimento em sustentabilidade figuram a pressão dos clientes por produtos e serviços mais sustentáveis, e os investidores institucionais:
  • Clientes pessoa-física ainda não estão abertos para pagar mais caro pela sustentabilidade embarcada, mas clientes corporativos já o fazem pela redução de custos futuros;
  • Investidores institucionais - como universidades e fundos de pensão - têm demandado cada vez mais informações de desempenho em sustentabilidade, aumentando o valor e necessidade de métricas acuradas.
Entre os principais benefícios do investimento em sustentabilidade figura claramente a ligação com inovação:
  • 25% dos respondentes indicaram a melhoria da capacidade de inovação em produtos e serviços;
  • 22%, a melhoria dos modelos de negócio e processos de inovação.
Esta terceira edição foca sua análise nas características do grupo de empresas que já está lucrando com a sustentabilidade, a quem chamou de "Harvesters" - ou numa tradução livre, os "Semeadores" - representando 31% dos respondentes. Algumas características dos Semeadores:
  • Têm um business case para sustentabilidade (probabilidade 3x maior)
  • 50% mais provável de terem compromisso do CEO para o tema
  • Têm um processo de reporting próprio para sustentabilidade (2x)
  • Têm um executivo designado (CSO, ou Chief Sustainability Officer) e um Comitê próprio (2,5x)
  • Têm indicadores de desempenho pessoais e operacionaois ligados a sustentabilidade (2x)
  • Têm maior colaboração com stakeholders dentro e fora da empresa - incluindo clientes e fornecedores
Os Semeadores evidenciam o sucesso potencial do investimento em sustentabilidade para os concorrentes. E mudam o ambiente competitivo em que operam. Outro aspecto importante é que a mudança por eles empreendida é mais estrutural (novas estratégias e modelos operacionais) do que apenas incremental (como ações individuais para redução de carbono, consumo de energia ou compliance regulatório).

Evidenciou-se também que os que adotaram práticas sustentáveis principalmente como resposta a riscos regulatórios, e não necessariamente transformando seus processos de negócio, não capturaram benefícios para a lucratividade decorrentes destas ações. Quanto mais se adia a inclusão da sustentabilidade na agenda de gestão, maior o risco de fazê-lo por uma questão de compliance regulatório.

Portanto, está provado que é possível e real a capacidade de realizar lucros a partir do investimento responsável e comprometido em sustentabilidade. E isso vai bastante além de melhorar a comunicação, estreitar o relacionamento, e gerenciar riscos e reputação.

O relatório está disponível mediante solicitação, em formato digital e gratuito no website da MIT Sloan Management Review (em inglês). Vale a pena conferir, além do texto integral também os gráficos interativos com o perfil das respostas e análises por tema.

10 May 2012

Panorama da Publicação de Relatórios de Sustentabilidade no Brasil

Intrigada com a aparente inexpressividade de nossos indicadores de publicação de Relatórios de Sustentabilidade e/ou Balanços Sociais, decidi investir algum tempo para formar um ponto de vista a respeito do tema: afinal o Brasil está bem ou mal neste quesito?

O embrião da ideia do balanço social surgiu na sociedade do pós-guerra, na medida em que começaram a exigir das empresas uma postura mais ética e tendo como marco o boicote de produtos de empresas ligadas à Guerra do Vietnã. No Brasil, os primeiros balanços sociais foram publicados na década de 80, mas o tema ganhou visibilidade nacional apenas no final dos anos 90, com a campanha pela divulgação voluntária de balanços empreendida pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.

Ao contrário do Balanço Patrimonial, ainda não existe no Brasil legislação para regulamentar a publicação do Balanço Social, portanto a adoção desta prática ainda é voluntária e não necessariamente sistemática. Com o desenvolvimento da consciência coletiva e aumento da visibilidade para questões ligadas à sustentabilidade da vida no planeta, a agenda do balanço social tem migrado progressivamente para o chamado Relatório de Sustentabilidade, integrando várias outras dimensões da responsabilidade corporativa.

Permanecemos sem obrigatoriedade de apresentação dos Relatórios de Sustentabilidade, porém um número crescente de empresas no mundo todo os publicam anualmente, seguindo algumas das muitas ferramentas de apoio existentes.

Segundo dados do GRI - Global Reporting Initiative ou Iniciativa Global de Relatórios, uma organização internacional que provê um conjunto de indicadores para apoiar a sustentabilidade - no ano de 2011 foram publicados 2.716 Relatórios de Sustentabilidade. Cinco anos antes, em 2007 o número foi 722, e tem crescido a uma taxa média de 36% ao ano desde então.
Relatórios de Sustentabilidade submetidos entre 2007 e 2011.
Fonte de Dados: GRI Database, 10-mai-2012

Os indicadores parecem bons, especialmente considerando a tendência de alta, mas como avaliar a expressividade dos números? Na tentativa de desenhar um cenário para arriscar um ponto de vista, fiz algumas pesquisas de volumes no Brasil:
  • 4,3 milhões é o número de empresas registradas no Brasil em 2009;
  • 535 é o número de empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), em maio de 2012;
  • 119 é o número de relatórios submetidos por empresas brasileiras ao GRI em 2011, em 32 categorias de indústria.
Relatórios de Sustentabilidade submetidos nos últimos 5 anos
por empresas brasileiras. 
Fonte de Dados: GRI Database, mai-2012
Tomado isoladamente, 119 parece bastante um número bastante tímido frente ao número de empresas registradas no Brasil e em particular na BM&FBovespa. Mas representam 34% das publicações feitas na América Latina, 4% das publicações mundiais. Além disso, considerando os dados dos últimos cinco anos, o número de publicações de empresas brasileiras tem crescido a uma média maior do que a observada nos números consolidados de empresas de todo o mundo (cerca de 56%). É preciso considerar que o registro da publicação no banco de dados do GRI não é obrigatório, portanto, é perfeitamente possível que o número real seja um pouco maior.

Dos 38 setores de indústria considerados pelo GRI, temos representantes brasileiros em 32 (84%), sendo que a maior concentração (40%) inclui empresas de Energia, Serviços Financeiros, e Papel e Celulose. Dentre os setores ainda sem representação encontram-se Brinquedos, Gestão de Lixo, Logística e Têxteis.

Desde abril passado, o governo brasileiro está discutindo uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 52), para instituir a obrigatoriedade da publicação de Planos de Metas em Sustentabilidade nas 3 esferas (federal, estadual e municipal), até 90 dias após a posse de cada governo. Considerando o enorme poder de indução do Estado Brasileiro - basta lembrar que suas compras representam cerca de 20% do PIB - a indústria certamente será afetada pela medida.

Além de induzir a adoção de práticas sustentáveis, certamente este movimento também deve impulsionar a publicação de balanços sociais entre as empresas brasileiras. O Brasil ocupa atualmente o terceiro posto no ranking de países com maior número de publicações. E nossa expectativa é que este número cresça, com qualidade e regularidade, cada ano mais.

Fontes: Banco de Dados da BM&FBovespa; Banco de Dados do GRI; Website do Governo do Brasil; Website do iBase.

7 May 2012

Produção Mais Limpa e a Política Nacional de Resíduos Sólidos

Acontece amanhã 8-mai, a 11º Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo, no Memorial da América Latina.

Com o propósito de discutir experiências e práticas de sustentabilidade nas empresas do setor público e privado, é esperado que a pauta desta edição aborde, entre outros, o tema dos desafios de cumprimento dos prazos e demandas da Política Nacional de Resíduos Sólidos (ou PNRS), em vigor desde agosto de 2010. Isso porque vence em agosto próximo o prazo para que municípios e estados brasileiros apresentem seus planos de metas para os resíduos sólidos.

A implementação da nova lei prevê diversos ganhos sociais, ambientais e econômicos. Começa estabelecendo uma distinção clara entre resíduos e rejeitos. Resíduo é todo lixo que pode ser reaproveitado e/ou reciclado; rejeito é o lixo não passível de reaproveitamento. A PNRS inclui princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes para a gestão dos resíduos sólidos.

De uma forma geral, os rejeitos passam a ser os únicos elegíveis para descarte em aterros sanitários. A coleta e destinação dos resíduos sólidos passa a ser responsabilidade compartilhada entre atores do poder público, setor produtivo e de serviços, e sociedade civil. Além disso, os lixões a céu aberto ainda existentes têm prazo até agosto de 2014 para serem totalmente erradicados.

Um dos grandes pilares da PNRS é a chamada logística reversa, por meio da qual se pretende sistematizar o retorno dos resíduos sólidos aos seus geradores, para que sejam reaproveitados e/ou reciclados, conforme o caso.

Uma das grandes contribuições sociais promovidas pela PNRS é a inclusão social, na medida em que dispõe sobre a implementação da coleta seletiva por meio da contratação de cooperativas de catadores. Os municípios que adotarem este tipo de parceria com cooperativas terão maior prioridade no acesso a recursos do governo federal. O Brasil tem hoje cerca de 1 milhão de catadores.

Para mais informações sobre o tema, recomendo baixar uma cartilha muito interessante preparada pelo CEMPRE, a associação Compromisso Empresarial para a Reciclagem.

Serviço:
O que: 11a. Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo - Quando: 8 de maio de 2012, das 8:30 às 18hOnde: Auditório Silmon Bolívar - Memorial da América Latina - Mais informaçõesGabinete do Vereador Gilberto Natalini

24 Apr 2012

A função do Líder de Sustentabilidade

Desafios são muitos e muitos deles urgentes. Porém perfil, escopo de trabalho, melhores práticas e outras características básicas da função do líder de Sustentabilidade permanecem não claramente definidos. A função evoluiu notavelmente na última década, quando foram designados os primeiros executivos de primeiro escalão - os chamados executivos de C-Level, dentre os quais surgiu o CSO ou Chief Sustainability Officer.

O que se vê na prática hoje é que muitas empresas ainda não sabem, do ponto de vista organizacional, como acomodar esta função: deve ser implementada numa área específica da empresa? deve permear todas as áreas funcionais da empresa? ou deve ser um meio termo entre estes dois arranjos?

Sem um escopo de trabalho claro, mas principalmente sem uma estratégia corporativa de sustentabilidade bem definida, a tendência é que nenhum dos arranjos se revele mais apropriado que os demais e portanto, dúvidas sobre como nomear a função, onde localizá-la na organização e quem designar para o posto, representam um grande desafio.

Sustentabilidade não é assunto novo no mundo corporativo, que sempre teve um olhar para lucratividade e desempenho econômico no longo prazo. O que é há de novo na pauta da Sustentabilidade é o olhar integrado para um desempenho mais amplo, envolvendo não apenas a dimensão econômica mas igualmente as dimensões social e ambiental. E este novo contexto demanda não apenas uma revisita mas, essencialmente, uma integração entre estratégias de negócio, de marca e de sustentabilidade.

Segundo um estudo publicado pelo Weinreb Group em Setembro de 2011, das cerca de 7.000 empresas de capital aberto registradas na Bolsa de Valores de Nova York - NYSE e NASDAQ - apenas 29 contavam com um CSO instituído. Um problema - dada a urgência de alguns dos temas na agenda destas áreas - porém não menos importante, uma grande oportunidade para profissionais de sustentabilidade.

Uma constatação interessante é que muitas outras empresas já contam com líderes de sustentabilidade - a diferença é que eles não contam com o empowerment de uma posição de primeiro escalão. O posicionamento organizacional da função diz muito sobre o estágio de maturidade e nível de integração do tema na agenda corporativa. Algumas das principais constatações sobre a função do líder de sustentabilidade incluem:
  • É uma função em ascensão do ponto de vista organizacional. Cada vez mais são designados executivos mais altos na hierarquia, em oposição a posições tradicionalmente mais baixas;
  • Requer um bom nível de conhecimento do negócio da empresa. Em geral, líderes de sustentabilidade são designados internamente;
  • Conta com poucos recursos (FTEs). A área em si centraliza alguns temas como a execução da governança e indicadores/relatórios, mas em geral coordena trabalhos colaborativos contando com as equipes das áreas funcionais;
  • Participa do processo decisório de assuntos corporativos, em comitês executivos não apenas relacionados a sustentabilidade;
  • Precisa navegar bem em temas como comunicação executiva e relações institucionais.
Ainda segundo o estudo publicado pelo Weingreb Group, não existe concentração aparente do ponto de vista de demografia educacional dos líderes de sustentabilidade: eles têm diversas formações - administradores, advogados, engenheiros - graus de escolaridade - bacharéis, mestres, doutores - e histórico/trajetória profissional.

Como seria de se esperar dado o estágio de maturidade inicial de sua implementação, não existem ainda melhores práticas reconhecidas nem casos de sucesso a serem perseguidos para um desempenho excelente da função. Apesar disso, algumas características já são reconhecidas como indispensáveis no perfil do líder de sustentabilidade, dentre eles:
  • Habilidade para gerenciar mudanças. Boa parte do trabalho diz respeito a catalisar mudanças (sem necessariamente colher os créditos por elas);
  • Capacidade de pensar sistemicamente. Não existem respostas fáceis em sustentabilidade muito menos soluções pontuais, sem impacto;
  • Habilidade para transformar oportunidades externas em inovação interna. Desafios do mercado, mudanças no comportamento do consumidor, exigências legais e regulatórias, todos têm potencial de alavancar inovação interna;
  • Capacidade de assumir riscos. Novamente, não existem respostas fáceis, portanto é preciso assumir riscos e engajar especialistas, buscar recomendações, e com a mesma coragem, admitir erros e corrigi-los;
  • Habilidade para engajar recursos tangíveis e intangíveis. Sendo áreas enxutas, mobilizar e orquestrar bem o uso de recursos da empresa é chave para atingir resultados.
Apesar de se classificar como uma função ainda em profissionalização por tudo o que discutimos aqui, várias são as evidências de que este processo não deve levar muito tempo para estabilizar também no Brasil: iniciativas como a ABRAPS (Associação Brasileira de Profissionais de Sustentabilidade) já começam a despontar por aqui a exemplo da ISSP americana (Internacional Society of Sustainability Professionals) e seu Projeto Lexicon - que pretende estabelecer terminologia própria para a área.

O tema já atrai a atenção de muitos profissionais, leva outros tantos a buscar educação para lidar com seus muitos assuntos - a oferta de cursos de pós-graduação em Sustentabilidade em São Paulo, por exemplo, nunca foi tão grande - e outros ainda a iniciar suas jornadas de movimentação de carreira tanto para funções ligadas direta ou indiretamente com sustentabilidade, quanto para empresas mais socialmente responsáveis.

Como mencionado no início deste post, os desafios são muitos e muitos deles urgentes. Esperemos que nossas empresas entendam e se engajem rapidamente neste processo. O bom resultado terá sido bom para todos.

15 Apr 2012

Hidroanel metropolitano pode criar alternativa de transporte intermodal em São Paulo

Leio hoje com satisfação nota publicada pelO Estado de São Paulo comunicando a intenção do Departamento Hidráulico (DH) da cidade de São Paulo, de dar início à construção de um trecho do Projeto Hidroanel através de uma eclusa na Penha (Rio Tietê) que vai permitir 66km de navegabilidade.

Discussões sobre o estabelecimento de infraestrutura para exploração da modalidade de transporte fluvial em São Paulo já é assunto antigo - primeiras ideias surgiram na década de 20! Com a construção das marginais na década de 60, o assunto esfriou na medida em que se optou por priorizar o transporte rodoviário.

O motivador do financiamento do projeto agora em 2012 está ligado à sustentabilidade, na medida em que o hidroanel é visto como alternativa para transformação de lixo em energia. O projeto completo prevê 170km de trecho navegável, com capacidade para transportar de ponta a ponta o equivalente a 50 caminhões de lixo por viagem. No destino, o lixo seria encaminhado para usinas para finalização do processo de tratamento. Muitos são os desafios técnicos do projeto - alto investimento para construção de eclusas, vazão insuficiente para navegação em determinados trechos, necessidade de dragagem e manutenção eficientes, baixa pluviometria média, etc.

A escolha do trecho piloto foi motivada pela menor dificuldade técnico-operacional que ele apresenta, podendo servir como case para teste de conceito do Projeto e vitrine para negociação de parceria futura com a iniciativa privada para continuidade das obras.

Em princípio a ideia parece boa e merecedora da mobilização de especialistas para colaborar no plano e desenvolvimento do projeto. Mas também me parece que nós paulistanos merecemos mais compromisso e  assertividade dos nossos governos para que sejam dimensionadas questões fundamentais relacionadas à viabilidade econômica e ambiental de importantes projetos como estes, dentro de um tempo minimamente razoável - este, por exemplo, está nesta discussão de viabilidade/impacto desde 2009...


Serviço: Mais informações técnicas sobre o Projeto estão disponíveis no website da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

11 Apr 2012

10 Princípios da Sustentabilidade

Boa parte das minhas reflexões sobre o tema Sustentabilidade nos últimos dias têm acontecido conforme avanço com a leitura de alguns livros muito interessantes, com destaque para Strategy for Sustainability: a Business Manifesto, do ambientalista americano Adam Werbach. A propósito, pretendo escrever uma crítica sobre o livro e publicar aqui no ThinkingBiz em breve. Por ora, compartilho algo que achei genial, a que Werbach chamou de Nature's rules of Sustainability - algo como as Leis Naturais da Sustentabilidade, quase uma carta de princípios norteadores do tema.

Nature's rules of Sustainability
  • Diversify across generations.
  • Adapt and specialize the changing environment.
  • Celebrate transparency.
  • Plan and execute systemically, not compartmentally.
  • Form groups and protect the young.
  • Integrate with metrics.
  • Improve with each cycle.
  • Rightsize regularly, rather than downsize occasionally.
  • Foster longevity, not immediate gratification.
  • Waste nothing, recycle everything and borrow little.
 ***
Leis Naturais da Sustentabilidade
  • Diversificar através de gerações.
  • Adaptar e especializar o ambiente em mudança.
  • Celebrar transparência.
  • Planejar e executar sistemicamente, não em partes.
  • Formar grupos e proteger os jovens.
  • Integrar com métricas.
  • Melhorar a cada ciclo.
  • Dimensionar bem regularmente, ao invés de reduzir ocasionalmente.
  • Encorajar longevidade, não gratificação imediata.
  • Desperdiçar nada, reciclar tudo, tomar pouco emprestado.
(tradução livre do inglês, feita por Sheila Maceira, a partir do texto original contido no livro Estratégia para Sustentabilidade, do autor Adam Werbach)

3 Apr 2012

Etanol ou Gasolina?

Em várias conversas que giram em torno do desenvolvimento sustentável, o mito dos combustíveis alternativos sempre acaba aparecendo mais cedo ou mais tarde, gerando muitas discussões. Resolvi então aproveitar o tema e esclarecer de vez: afinal, o ciclo completo do etanol provê ou não melhor benefício ambiental?

Para começar, uma definição: combustíveis verdes são aqueles que produzem menos CO2 em seu ciclo completo de produção e consumo. São eles: etanol, biodiesel, eletricidade e hidrogênio líquido. E mais uma: por ciclo completo do etanol entende-se: plantio, colheita, industrialização, distribuição e consumo.

O etanol no momento é fabricado a partir de cana de açúcar e milho. Existem pesquisas em curso para fabricação de etanol a partir de celulose, mas esta fonte ainda não é 100% viável apesar da pesquisa estar bastante avançada.

Do ponto de vista ambiental, dois fatos chamam atenção nas pesquisas mais recentes sobre a pegada de carbono do ciclo do etanol:
  • Todo CO2 emitido pelos carros abastecidos com etanol é reabsorvido pelas plantações de cana de açúcar
  • Em contrapartida, o petróleo lança o CO2 retirado da terra na atmosfera, mas não o reabsorve

Do ponto de vista econômico, os fatos são também bastante animadores:
  • O etanol brasileiro é o mais barato do mundo;
  • O etanol é menos econômico mas dá mais potência do que a gasolina (maior octanagem)
  • O preço do barril do petróleo no mercado internacional hoje gira em torno de US$100: ainda que fosse US$35 por barril, o custo do etanol ainda seria mais baixo; para viabilidade econômica dos demais combustíveis verdes, este valor deveria ser no mínimo US$80
É claro que o etanol brasileiro é mais barato por vários fatores ambientais - condições climáticas, solo e outras que favorecem o cultivo da cana de açúcar - mas também por um fator social bastante inconveniente: o etanol emprega 20 vezes mais mão-de-obra do que qualquer outro combustível verde, mas as condições de trabalho de grande parte dela são não sustentáveis e baseadas na exploração dos chamados bóias-frias.

Além das relações de trabalho precárias, existem vários outros fantasmas no armário do ciclo do etanol que precisam urgentemente de uma solução ambientalmente adequada:
  • queimadas (já proibidas no estado de São Paulo a partir de 2.015)
  • contaminação de mananciais pelo descarte de efluentes produtivos como a vinhaça (que já é usada em parte como adubo da lavoura)
  • excessivo consumo de água no processo produtivo - especialmente nas usinas mais antigas chegando a 21.000 litros por tonelada de cana e degradação do solo (que exige rotação de culturas)
Além disso, as usinas de etanol usam energia limpa (gerada a partir do bagaço de cana) mas o sistema de transporte ainda usa derivados do petróleo para distribuição.

Ainda assim, a resposta para a dúvida sobre a melhor eficiência ambiental do etanol é um sonoro SIM. De acordo com estudos com base em dados da região centro-sul do Brasil, realizados pelo Professor Doutor Luiz Augusto Horta Nogueira, engenheiro mecânico e PhD no tema:

Para cada 1.000 litros de etanol, a conta do CO2 é a seguinte:
  1. Emissão na produção da cana: 173Kg
  2. Absorção no crescimento da lavoura de cana de açúcar: -7.464Kg
  3. Colheita e transporte da cana de açúcar: 2.940Kg
  4. Fabricação ao álcool: 3.140Kg
  5. Emissão no consumo (nos motores dos veículos): 1.520Kg
Portanto, para fornecer 1.000 litros de energia, o etanol emite 309Kg de CO2. Para a mesma quantidade de energia, a gasolina libera 3.368Kg, portanto pouco menos de 11 vezes mais!

Temos portanto muito a fazer ainda para tornar o ciclo do etanol mais sustentável e responsável. Mas não há duvida de que optar pelo etanol é absolutamente menos agressivo para o meio ambiente do que a alternativa gasolina - ainda que o limite de sua capacidade produtiva responsável seja suficiente para fornecer não muito mais do que 20% da necessidade mundial.

Saiba mais no website do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol.

30 Mar 2012

Valores éticos e a corrupção internacional

Um caloroso debate sobre ética empresarial nos últimos dias me fez buscar o índice de transparência internacional medido anualmente pela Organização Transparência Internacional, desde 1995. Penso que não há como falar em compromissos de desenvolvimento sustentável sem ter em conta os valores éticos fundamentais da justiça, honestidade e verdade.

Para quem não conhece, o CPI - Índice de Percepção da Corrupção, é apurado através de pesquisas de percepção e diagnósticos de especialistas para cerca de 200 países, e tem resultados aprovados por um comitê internacional envolvendo estatísticos, economistas, cientistas políticos e sociais. O índice vai zero a 10 - sendo que quanto mais alto o índice, menor a percepção de corrupção no país.

Em 2011, 2/3 dos países ficaram com nota abaixo de 5 - o que significa que são considerados significativamente corruptos. Entre os mais corruptos estão os aqueles com governos instáveis, em especial os que têm histórico de conflitos: Afeganistão, Coréia do Norte, Haiti, Somália. Para minha surpresa, entre os 10 piores encontra-se também a Venezuela. Entre os BRICS, o Brasil é o segundo melhor e a Rússia o último:
  1. África do Sul: 4,1 (4,5 em 2010)
  2. Brasil: 3,8 (3,7 em 2010)
  3. China: 3,6 (3,5 em 2010)
  4. India: 3,1 (3,3 em 2010)
  5. Russia: 2,4 (2,1 em 2010)
Entre os mais bem colocados, também pouca surpresa: Australia, América do Norte e Europa Ocidental. Na América do Sul, fazem bonito entre os melhores, dois países apenas: Chile (7,2) e Uruguai (7,0). Dois bons exemplos a serem perseguidos em terra brasilis.

No website da Organização tem um infográfico interativo super interessante e é também possível baixar a planilha histórica dos países monitorados. Os índices de 2011 foram publicados em 1/dez/2011.

27 Mar 2012

Natura é o Brasil no ranking Ethisphere/WME 2012

Pelo segundo ano consecutivo, a Natura permanece a única representante brasileira no ranking das empresas mais éticas do mundo - World's Most Ethical (WME) companies - publicado anualmente desde 2007 pelo Instituto de Pesquisa Ethisphere.

Ao lado das gigantes L'Oreal e Shiseido na categoria Saúde e Beleza (Health and Beauty), a Natura figura entre as 145 empresas eleitas no WME 2012.

A metodologia do ranking WME inclui padrões éticos (aspectos do código de ética, práticas de litigação e histórico de infrações regulatórias); avaliação do investimento em inovação e práticas de negócio sustentáveis; iniciativas de melhoria do indicador de cidadania corporativa; e premiações/reconhecimentos recebidos por executivos da empresa, pares na indústria de atuação, fornecedores e clientes.

Entre as 23 empresas que figuram na lista de eleitas desde o início da publicação em 2007 estão American Express, General Electric e Starbucks.

E por falar em ética, temos ainda dois brasileiros no Ranking Ethispere 2011 das 100 pessoas mais influentes em ética corporativa: a presidente Dilma Rousseff (posição #42) - por engajar o empresariado brasileiro em torno de seu ideal de erradicar a pobreza no Brasil - e o presidente da Comissão de Ética, Sepulveda Pertence (posição #47) - por seu esforço bem-sucedido de eliminar do governo brasileiro ministros com problemas de violação ética. Aguardemos por boas notícias na edição 2012!

25 Mar 2012

back to business! :)

Retomo hoje com muita satisfação este que, apesar de ter ficado fora da agenda de contribuições por algum tempo, nunca deixou de ser meu blog mais querido. Para fazer deste um retorno em alto estilo, aproveito para compartilhar uma palestra do climatologista Antonio Donato Nobre, apresentada no TEDx Amazônia há poucos meses (Nov/2010).

A recomendação surgiu numa discussão sobre sustentabilidade ecológica, e foi para mim uma grata e elucidativa aula de ciência sobre a real importância da biodiversidade e conservação da floresta amazônica. Fica ainda como um convite à reflexão, alguns dias depois do Dia Mundial da Água celebrado no mundo todo na última quinta-feira (22/mar).

Um abraço e até breve :)