29 May 2012

Economia verde? Não. Azul!

A melhor explicação de economia sustentável que vi até agora é esta aqui abaixo, num video ao estilo commoncraft feito pela The Blue Economy. Até pensei em escrever uma resenha, mas sinceramente acho que o video de 3:26 minutos diz tudo - então como contribuição deixo uma transcrição para o português. Confira!

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Transcrição para o português [por Sheila Maceira]:

Este video explica a Economia Azul.
Este é o nosso planeta. Claro que queremos preservá-lo para as gerações futuras e então escolhemos: produtos saudáveis e naturais, comida orgânica, energia solar e sabonetes biodegradáveis. Porém estes produtos são mais caros.
Produtos piores para sua saúde e que degradam o meio ambiente são mais baratos. Produtos melhores para a saúde e que preservam o meio ambiente são mais caros. Apesar de mais interessante, muitos de nós não podem pagar por esta economia verde.
Pior, algumas coisas que parecem ser boas para nós e para a natureza, na verdade não são nenhum dos dois. Sabonetes biodegradáveis usam óleo de palma de plantações que destroem as florestais tropicais. Energia solar, há decadas depende de subsídios que demandam impostos. Bioplásticos competem com comida. Comida orgânica viaja o mundo afetando o clima. Então não se trata de ser caro apenas, às vezes também não é inteligente. É preciso ser mais criativo, para fazer melhor.
É preciso abrir os olhos para ver o que temos. Por exemplo: em nosso café da manhã, realmente usamos apenas 0,2% do pó. O que fazemos com os 99,8% restantes? Jogamos fora? Podemos usar este pó para semear cogumelos e alimentar animais com o restante. Animais produzem esterco, e as bactérias podem gerar biogás a partir deste esterco. O que parecia apenas lixo, mas hoje todos sabemos que este lixo pode gerar comida, energia e postos de trabalho.
Existem muitas oportunidades, uma vez que voltemos nosso olhar para elas. É muito claro que podemos transformar miséria em desenvolvimento, escassez em abundância. Se pudermos fazer o bolo maior, fica mais fácil dividir com todos.
Apesar disso, muitas pessoas têm boas ideias - mas também precisamos de pessoas que façam acontecer. Precisamos destes empreendedores, na verdade, precisamos de uma geração inteira de empreendedores. Eles não se importam porquê as maçãs caem da árvore. Newton já desvendou este mistério há muitos anos atrás. Eles querem saber como as maçãs subiram na árvore, definir a lei da gravidade.
Estes inovadores pensam como David contra Golias, que com pouca experiência e dinheiro, mudam as regras e o jogo - e geram mais dinheiro para eles mesmos e para suas comunidades - o que deixa todos satisfeitos. Este é o objetivo: tornar as pessoas saudáveis e felizes, com o que nem sabíamos que tínhamos.
Por que afinal das contas, o céu é azul, o oceano é azul e nosso planeta - como visto a partir do espaço - é também azul. E é porisso que chamamos esta economia de azul. E ela apenas começou. Para mais informações, visite zeri.org.

16 May 2012

Estudo do MIT prova que Sustentabilidade gera Lucro

Boas novas na área de Sustentabilidade foram reveladas com a publicação da terceira edição do Estudo Executivo Global de Sustentabilidade e Inovação, conduzido pelo MIT Sloan Management Review, com o apoio do The Boston Consulting Group.

O estudo foi feito com base em pesquisas com gerentes e executivos de companhias, alcançando 4.000 respondentes em 113 países. Entre as boas notícias está a evidência da relação direta entre investimento responsável em sustentabilidade e lucratividade: 33% das empresas participantes da pesquisa já comprovam que este investimento se paga e contribui para a lucratividade.

De acordo com a amostra, 70% das empresas já incluiu o tema sustentabilidade em suas agendas permanentes. Em tempos de vacas magras, onde seria esperada uma baixa nestes investimentos, a realidade mostra justamente o contrário: apesar de não figurar entre os itens mais prioritários da agenda (em geral, ficou na oitava posição do ranking geral de prioridades), o tema ganha cada vez mais compromisso e recursos.

Esta tendência se verifica em todas as indústrias, embora tenha mais força naquelas mais intensivas no uso de recursos - energia e utilidades, bens de consumo, commodities, químicas e automotivas. Neste tipo de indústria há muita incerteza sobre o futuro das regulamentações ambientais, e algumas empresas estrategicamente já se antecipam na construção de reputação e relacionamento junto a ONGs e governos. Entre as lanternas do ranking, estão as indústrias de tecnologia e serviços, que ainda não percebem sustentabilidade como requisito para competitividade, embora comparativamente a edições anteriores, esta situação é cada vez menos comum.

Entre os principais direcionadores externos para o investimento em sustentabilidade figuram a pressão dos clientes por produtos e serviços mais sustentáveis, e os investidores institucionais:
  • Clientes pessoa-física ainda não estão abertos para pagar mais caro pela sustentabilidade embarcada, mas clientes corporativos já o fazem pela redução de custos futuros;
  • Investidores institucionais - como universidades e fundos de pensão - têm demandado cada vez mais informações de desempenho em sustentabilidade, aumentando o valor e necessidade de métricas acuradas.
Entre os principais benefícios do investimento em sustentabilidade figura claramente a ligação com inovação:
  • 25% dos respondentes indicaram a melhoria da capacidade de inovação em produtos e serviços;
  • 22%, a melhoria dos modelos de negócio e processos de inovação.
Esta terceira edição foca sua análise nas características do grupo de empresas que já está lucrando com a sustentabilidade, a quem chamou de "Harvesters" - ou numa tradução livre, os "Semeadores" - representando 31% dos respondentes. Algumas características dos Semeadores:
  • Têm um business case para sustentabilidade (probabilidade 3x maior)
  • 50% mais provável de terem compromisso do CEO para o tema
  • Têm um processo de reporting próprio para sustentabilidade (2x)
  • Têm um executivo designado (CSO, ou Chief Sustainability Officer) e um Comitê próprio (2,5x)
  • Têm indicadores de desempenho pessoais e operacionaois ligados a sustentabilidade (2x)
  • Têm maior colaboração com stakeholders dentro e fora da empresa - incluindo clientes e fornecedores
Os Semeadores evidenciam o sucesso potencial do investimento em sustentabilidade para os concorrentes. E mudam o ambiente competitivo em que operam. Outro aspecto importante é que a mudança por eles empreendida é mais estrutural (novas estratégias e modelos operacionais) do que apenas incremental (como ações individuais para redução de carbono, consumo de energia ou compliance regulatório).

Evidenciou-se também que os que adotaram práticas sustentáveis principalmente como resposta a riscos regulatórios, e não necessariamente transformando seus processos de negócio, não capturaram benefícios para a lucratividade decorrentes destas ações. Quanto mais se adia a inclusão da sustentabilidade na agenda de gestão, maior o risco de fazê-lo por uma questão de compliance regulatório.

Portanto, está provado que é possível e real a capacidade de realizar lucros a partir do investimento responsável e comprometido em sustentabilidade. E isso vai bastante além de melhorar a comunicação, estreitar o relacionamento, e gerenciar riscos e reputação.

O relatório está disponível mediante solicitação, em formato digital e gratuito no website da MIT Sloan Management Review (em inglês). Vale a pena conferir, além do texto integral também os gráficos interativos com o perfil das respostas e análises por tema.

10 May 2012

Panorama da Publicação de Relatórios de Sustentabilidade no Brasil

Intrigada com a aparente inexpressividade de nossos indicadores de publicação de Relatórios de Sustentabilidade e/ou Balanços Sociais, decidi investir algum tempo para formar um ponto de vista a respeito do tema: afinal o Brasil está bem ou mal neste quesito?

O embrião da ideia do balanço social surgiu na sociedade do pós-guerra, na medida em que começaram a exigir das empresas uma postura mais ética e tendo como marco o boicote de produtos de empresas ligadas à Guerra do Vietnã. No Brasil, os primeiros balanços sociais foram publicados na década de 80, mas o tema ganhou visibilidade nacional apenas no final dos anos 90, com a campanha pela divulgação voluntária de balanços empreendida pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.

Ao contrário do Balanço Patrimonial, ainda não existe no Brasil legislação para regulamentar a publicação do Balanço Social, portanto a adoção desta prática ainda é voluntária e não necessariamente sistemática. Com o desenvolvimento da consciência coletiva e aumento da visibilidade para questões ligadas à sustentabilidade da vida no planeta, a agenda do balanço social tem migrado progressivamente para o chamado Relatório de Sustentabilidade, integrando várias outras dimensões da responsabilidade corporativa.

Permanecemos sem obrigatoriedade de apresentação dos Relatórios de Sustentabilidade, porém um número crescente de empresas no mundo todo os publicam anualmente, seguindo algumas das muitas ferramentas de apoio existentes.

Segundo dados do GRI - Global Reporting Initiative ou Iniciativa Global de Relatórios, uma organização internacional que provê um conjunto de indicadores para apoiar a sustentabilidade - no ano de 2011 foram publicados 2.716 Relatórios de Sustentabilidade. Cinco anos antes, em 2007 o número foi 722, e tem crescido a uma taxa média de 36% ao ano desde então.
Relatórios de Sustentabilidade submetidos entre 2007 e 2011.
Fonte de Dados: GRI Database, 10-mai-2012

Os indicadores parecem bons, especialmente considerando a tendência de alta, mas como avaliar a expressividade dos números? Na tentativa de desenhar um cenário para arriscar um ponto de vista, fiz algumas pesquisas de volumes no Brasil:
  • 4,3 milhões é o número de empresas registradas no Brasil em 2009;
  • 535 é o número de empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), em maio de 2012;
  • 119 é o número de relatórios submetidos por empresas brasileiras ao GRI em 2011, em 32 categorias de indústria.
Relatórios de Sustentabilidade submetidos nos últimos 5 anos
por empresas brasileiras. 
Fonte de Dados: GRI Database, mai-2012
Tomado isoladamente, 119 parece bastante um número bastante tímido frente ao número de empresas registradas no Brasil e em particular na BM&FBovespa. Mas representam 34% das publicações feitas na América Latina, 4% das publicações mundiais. Além disso, considerando os dados dos últimos cinco anos, o número de publicações de empresas brasileiras tem crescido a uma média maior do que a observada nos números consolidados de empresas de todo o mundo (cerca de 56%). É preciso considerar que o registro da publicação no banco de dados do GRI não é obrigatório, portanto, é perfeitamente possível que o número real seja um pouco maior.

Dos 38 setores de indústria considerados pelo GRI, temos representantes brasileiros em 32 (84%), sendo que a maior concentração (40%) inclui empresas de Energia, Serviços Financeiros, e Papel e Celulose. Dentre os setores ainda sem representação encontram-se Brinquedos, Gestão de Lixo, Logística e Têxteis.

Desde abril passado, o governo brasileiro está discutindo uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 52), para instituir a obrigatoriedade da publicação de Planos de Metas em Sustentabilidade nas 3 esferas (federal, estadual e municipal), até 90 dias após a posse de cada governo. Considerando o enorme poder de indução do Estado Brasileiro - basta lembrar que suas compras representam cerca de 20% do PIB - a indústria certamente será afetada pela medida.

Além de induzir a adoção de práticas sustentáveis, certamente este movimento também deve impulsionar a publicação de balanços sociais entre as empresas brasileiras. O Brasil ocupa atualmente o terceiro posto no ranking de países com maior número de publicações. E nossa expectativa é que este número cresça, com qualidade e regularidade, cada ano mais.

Fontes: Banco de Dados da BM&FBovespa; Banco de Dados do GRI; Website do Governo do Brasil; Website do iBase.

7 May 2012

Produção Mais Limpa e a Política Nacional de Resíduos Sólidos

Acontece amanhã 8-mai, a 11º Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo, no Memorial da América Latina.

Com o propósito de discutir experiências e práticas de sustentabilidade nas empresas do setor público e privado, é esperado que a pauta desta edição aborde, entre outros, o tema dos desafios de cumprimento dos prazos e demandas da Política Nacional de Resíduos Sólidos (ou PNRS), em vigor desde agosto de 2010. Isso porque vence em agosto próximo o prazo para que municípios e estados brasileiros apresentem seus planos de metas para os resíduos sólidos.

A implementação da nova lei prevê diversos ganhos sociais, ambientais e econômicos. Começa estabelecendo uma distinção clara entre resíduos e rejeitos. Resíduo é todo lixo que pode ser reaproveitado e/ou reciclado; rejeito é o lixo não passível de reaproveitamento. A PNRS inclui princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes para a gestão dos resíduos sólidos.

De uma forma geral, os rejeitos passam a ser os únicos elegíveis para descarte em aterros sanitários. A coleta e destinação dos resíduos sólidos passa a ser responsabilidade compartilhada entre atores do poder público, setor produtivo e de serviços, e sociedade civil. Além disso, os lixões a céu aberto ainda existentes têm prazo até agosto de 2014 para serem totalmente erradicados.

Um dos grandes pilares da PNRS é a chamada logística reversa, por meio da qual se pretende sistematizar o retorno dos resíduos sólidos aos seus geradores, para que sejam reaproveitados e/ou reciclados, conforme o caso.

Uma das grandes contribuições sociais promovidas pela PNRS é a inclusão social, na medida em que dispõe sobre a implementação da coleta seletiva por meio da contratação de cooperativas de catadores. Os municípios que adotarem este tipo de parceria com cooperativas terão maior prioridade no acesso a recursos do governo federal. O Brasil tem hoje cerca de 1 milhão de catadores.

Para mais informações sobre o tema, recomendo baixar uma cartilha muito interessante preparada pelo CEMPRE, a associação Compromisso Empresarial para a Reciclagem.

Serviço:
O que: 11a. Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo - Quando: 8 de maio de 2012, das 8:30 às 18hOnde: Auditório Silmon Bolívar - Memorial da América Latina - Mais informaçõesGabinete do Vereador Gilberto Natalini