Para começar, uma definição: combustíveis verdes são aqueles que produzem menos CO2 em seu ciclo completo de produção e consumo. São eles: etanol, biodiesel, eletricidade e hidrogênio líquido. E mais uma: por ciclo completo do etanol entende-se: plantio, colheita, industrialização, distribuição e consumo.
O etanol no momento é fabricado a partir de cana de açúcar e milho. Existem pesquisas em curso para fabricação de etanol a partir de celulose, mas esta fonte ainda não é 100% viável apesar da pesquisa estar bastante avançada.
Do ponto de vista ambiental, dois fatos chamam atenção nas pesquisas mais recentes sobre a pegada de carbono do ciclo do etanol:
- Todo CO2 emitido pelos carros abastecidos com etanol é reabsorvido pelas plantações de cana de açúcar
- Em contrapartida, o petróleo lança o CO2 retirado da terra na atmosfera, mas não o reabsorve
Do ponto de vista econômico, os fatos são também bastante animadores:
- O etanol brasileiro é o mais barato do mundo;
- O etanol é menos econômico mas dá mais potência do que a gasolina (maior octanagem)
- O preço do barril do petróleo no mercado internacional hoje gira em torno de US$100: ainda que fosse US$35 por barril, o custo do etanol ainda seria mais baixo; para viabilidade econômica dos demais combustíveis verdes, este valor deveria ser no mínimo US$80
- queimadas (já proibidas no estado de São Paulo a partir de 2.015)
- contaminação de mananciais pelo descarte de efluentes produtivos como a vinhaça (que já é usada em parte como adubo da lavoura)
- excessivo consumo de água no processo produtivo - especialmente nas usinas mais antigas chegando a 21.000 litros por tonelada de cana e degradação do solo (que exige rotação de culturas)
Ainda assim, a resposta para a dúvida sobre a melhor eficiência ambiental do etanol é um sonoro SIM. De acordo com estudos com base em dados da região centro-sul do Brasil, realizados pelo Professor Doutor Luiz Augusto Horta Nogueira, engenheiro mecânico e PhD no tema:
Para cada 1.000 litros de etanol, a conta do CO2 é a seguinte:
- Emissão na produção da cana: 173Kg
- Absorção no crescimento da lavoura de cana de açúcar: -7.464Kg
- Colheita e transporte da cana de açúcar: 2.940Kg
- Fabricação ao álcool: 3.140Kg
- Emissão no consumo (nos motores dos veículos): 1.520Kg
Temos portanto muito a fazer ainda para tornar o ciclo do etanol mais sustentável e responsável. Mas não há duvida de que optar pelo etanol é absolutamente menos agressivo para o meio ambiente do que a alternativa gasolina - ainda que o limite de sua capacidade produtiva responsável seja suficiente para fornecer não muito mais do que 20% da necessidade mundial.
Saiba mais no website do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol.
2 comments:
*** Republico aqui comentário feito pelo Vinicius Rodrigues no Facebook ***
Sheila,
Gostei do tema abordado e, sobretudo, de alguns dados que ainda não conhecia. Vira e mexe, como você mesma citou, eu entro neste debate com amigos próximos e familiares. E a dúvida sempre parece ser o sentimento que encerra essas conversas. Certamente, vou compartilhar este texto para alguns esclarecimentos mais detalhados.
O debate é bom e acredito que mereça, ainda, muita atenção. Tratar da matriz energética brasileira é um grande desafio, que envolve questões ambientais, sociais, políticas e histórico-culturais! Equacionar todo esse complexo conjunto de variáveis é o que vai determinar se o Brasil quer ser exemplo ou liderado.
Um grande abraço,
Vinícius
Publicada na edição de hoje do Smart Planet Journal uma informação correlata a este post e que me pareceu muito interessante compartilhar: Cientistas analisaram comparativamente emissões de carros elétricos vs carros movidos a combustíveis fósseis, e concluíram que a alternativa é mais limpa - mesmo no pior caso, em que a energia elétrica fosse gerada pela queima de carvão! Para quem quiser conferir a matéria (em inglês): http://www.smartplanet.com/blog/intelligent-energy/electric-vehicles-cleaner-than-gasoline-anywhere/15002?tag=nl.e660
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