10 May 2012

Panorama da Publicação de Relatórios de Sustentabilidade no Brasil

Intrigada com a aparente inexpressividade de nossos indicadores de publicação de Relatórios de Sustentabilidade e/ou Balanços Sociais, decidi investir algum tempo para formar um ponto de vista a respeito do tema: afinal o Brasil está bem ou mal neste quesito?

O embrião da ideia do balanço social surgiu na sociedade do pós-guerra, na medida em que começaram a exigir das empresas uma postura mais ética e tendo como marco o boicote de produtos de empresas ligadas à Guerra do Vietnã. No Brasil, os primeiros balanços sociais foram publicados na década de 80, mas o tema ganhou visibilidade nacional apenas no final dos anos 90, com a campanha pela divulgação voluntária de balanços empreendida pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.

Ao contrário do Balanço Patrimonial, ainda não existe no Brasil legislação para regulamentar a publicação do Balanço Social, portanto a adoção desta prática ainda é voluntária e não necessariamente sistemática. Com o desenvolvimento da consciência coletiva e aumento da visibilidade para questões ligadas à sustentabilidade da vida no planeta, a agenda do balanço social tem migrado progressivamente para o chamado Relatório de Sustentabilidade, integrando várias outras dimensões da responsabilidade corporativa.

Permanecemos sem obrigatoriedade de apresentação dos Relatórios de Sustentabilidade, porém um número crescente de empresas no mundo todo os publicam anualmente, seguindo algumas das muitas ferramentas de apoio existentes.

Segundo dados do GRI - Global Reporting Initiative ou Iniciativa Global de Relatórios, uma organização internacional que provê um conjunto de indicadores para apoiar a sustentabilidade - no ano de 2011 foram publicados 2.716 Relatórios de Sustentabilidade. Cinco anos antes, em 2007 o número foi 722, e tem crescido a uma taxa média de 36% ao ano desde então.
Relatórios de Sustentabilidade submetidos entre 2007 e 2011.
Fonte de Dados: GRI Database, 10-mai-2012

Os indicadores parecem bons, especialmente considerando a tendência de alta, mas como avaliar a expressividade dos números? Na tentativa de desenhar um cenário para arriscar um ponto de vista, fiz algumas pesquisas de volumes no Brasil:
  • 4,3 milhões é o número de empresas registradas no Brasil em 2009;
  • 535 é o número de empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), em maio de 2012;
  • 119 é o número de relatórios submetidos por empresas brasileiras ao GRI em 2011, em 32 categorias de indústria.
Relatórios de Sustentabilidade submetidos nos últimos 5 anos
por empresas brasileiras. 
Fonte de Dados: GRI Database, mai-2012
Tomado isoladamente, 119 parece bastante um número bastante tímido frente ao número de empresas registradas no Brasil e em particular na BM&FBovespa. Mas representam 34% das publicações feitas na América Latina, 4% das publicações mundiais. Além disso, considerando os dados dos últimos cinco anos, o número de publicações de empresas brasileiras tem crescido a uma média maior do que a observada nos números consolidados de empresas de todo o mundo (cerca de 56%). É preciso considerar que o registro da publicação no banco de dados do GRI não é obrigatório, portanto, é perfeitamente possível que o número real seja um pouco maior.

Dos 38 setores de indústria considerados pelo GRI, temos representantes brasileiros em 32 (84%), sendo que a maior concentração (40%) inclui empresas de Energia, Serviços Financeiros, e Papel e Celulose. Dentre os setores ainda sem representação encontram-se Brinquedos, Gestão de Lixo, Logística e Têxteis.

Desde abril passado, o governo brasileiro está discutindo uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 52), para instituir a obrigatoriedade da publicação de Planos de Metas em Sustentabilidade nas 3 esferas (federal, estadual e municipal), até 90 dias após a posse de cada governo. Considerando o enorme poder de indução do Estado Brasileiro - basta lembrar que suas compras representam cerca de 20% do PIB - a indústria certamente será afetada pela medida.

Além de induzir a adoção de práticas sustentáveis, certamente este movimento também deve impulsionar a publicação de balanços sociais entre as empresas brasileiras. O Brasil ocupa atualmente o terceiro posto no ranking de países com maior número de publicações. E nossa expectativa é que este número cresça, com qualidade e regularidade, cada ano mais.

Fontes: Banco de Dados da BM&FBovespa; Banco de Dados do GRI; Website do Governo do Brasil; Website do iBase.

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