3 Apr 2012

Etanol ou Gasolina?

Em várias conversas que giram em torno do desenvolvimento sustentável, o mito dos combustíveis alternativos sempre acaba aparecendo mais cedo ou mais tarde, gerando muitas discussões. Resolvi então aproveitar o tema e esclarecer de vez: afinal, o ciclo completo do etanol provê ou não melhor benefício ambiental?

Para começar, uma definição: combustíveis verdes são aqueles que produzem menos CO2 em seu ciclo completo de produção e consumo. São eles: etanol, biodiesel, eletricidade e hidrogênio líquido. E mais uma: por ciclo completo do etanol entende-se: plantio, colheita, industrialização, distribuição e consumo.

O etanol no momento é fabricado a partir de cana de açúcar e milho. Existem pesquisas em curso para fabricação de etanol a partir de celulose, mas esta fonte ainda não é 100% viável apesar da pesquisa estar bastante avançada.

Do ponto de vista ambiental, dois fatos chamam atenção nas pesquisas mais recentes sobre a pegada de carbono do ciclo do etanol:
  • Todo CO2 emitido pelos carros abastecidos com etanol é reabsorvido pelas plantações de cana de açúcar
  • Em contrapartida, o petróleo lança o CO2 retirado da terra na atmosfera, mas não o reabsorve

Do ponto de vista econômico, os fatos são também bastante animadores:
  • O etanol brasileiro é o mais barato do mundo;
  • O etanol é menos econômico mas dá mais potência do que a gasolina (maior octanagem)
  • O preço do barril do petróleo no mercado internacional hoje gira em torno de US$100: ainda que fosse US$35 por barril, o custo do etanol ainda seria mais baixo; para viabilidade econômica dos demais combustíveis verdes, este valor deveria ser no mínimo US$80
É claro que o etanol brasileiro é mais barato por vários fatores ambientais - condições climáticas, solo e outras que favorecem o cultivo da cana de açúcar - mas também por um fator social bastante inconveniente: o etanol emprega 20 vezes mais mão-de-obra do que qualquer outro combustível verde, mas as condições de trabalho de grande parte dela são não sustentáveis e baseadas na exploração dos chamados bóias-frias.

Além das relações de trabalho precárias, existem vários outros fantasmas no armário do ciclo do etanol que precisam urgentemente de uma solução ambientalmente adequada:
  • queimadas (já proibidas no estado de São Paulo a partir de 2.015)
  • contaminação de mananciais pelo descarte de efluentes produtivos como a vinhaça (que já é usada em parte como adubo da lavoura)
  • excessivo consumo de água no processo produtivo - especialmente nas usinas mais antigas chegando a 21.000 litros por tonelada de cana e degradação do solo (que exige rotação de culturas)
Além disso, as usinas de etanol usam energia limpa (gerada a partir do bagaço de cana) mas o sistema de transporte ainda usa derivados do petróleo para distribuição.

Ainda assim, a resposta para a dúvida sobre a melhor eficiência ambiental do etanol é um sonoro SIM. De acordo com estudos com base em dados da região centro-sul do Brasil, realizados pelo Professor Doutor Luiz Augusto Horta Nogueira, engenheiro mecânico e PhD no tema:

Para cada 1.000 litros de etanol, a conta do CO2 é a seguinte:
  1. Emissão na produção da cana: 173Kg
  2. Absorção no crescimento da lavoura de cana de açúcar: -7.464Kg
  3. Colheita e transporte da cana de açúcar: 2.940Kg
  4. Fabricação ao álcool: 3.140Kg
  5. Emissão no consumo (nos motores dos veículos): 1.520Kg
Portanto, para fornecer 1.000 litros de energia, o etanol emite 309Kg de CO2. Para a mesma quantidade de energia, a gasolina libera 3.368Kg, portanto pouco menos de 11 vezes mais!

Temos portanto muito a fazer ainda para tornar o ciclo do etanol mais sustentável e responsável. Mas não há duvida de que optar pelo etanol é absolutamente menos agressivo para o meio ambiente do que a alternativa gasolina - ainda que o limite de sua capacidade produtiva responsável seja suficiente para fornecer não muito mais do que 20% da necessidade mundial.

Saiba mais no website do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol.

2 comments:

sheila maceira said...

*** Republico aqui comentário feito pelo Vinicius Rodrigues no Facebook ***

Sheila,

Gostei do tema abordado e, sobretudo, de alguns dados que ainda não conhecia. Vira e mexe, como você mesma citou, eu entro neste debate com amigos próximos e familiares. E a dúvida sempre parece ser o sentimento que encerra essas conversas. Certamente, vou compartilhar este texto para alguns esclarecimentos mais detalhados.

O debate é bom e acredito que mereça, ainda, muita atenção. Tratar da matriz energética brasileira é um grande desafio, que envolve questões ambientais, sociais, políticas e histórico-culturais! Equacionar todo esse complexo conjunto de variáveis é o que vai determinar se o Brasil quer ser exemplo ou liderado.

Um grande abraço,

Vinícius

Anonymous said...

Publicada na edição de hoje do Smart Planet Journal uma informação correlata a este post e que me pareceu muito interessante compartilhar: Cientistas analisaram comparativamente emissões de carros elétricos vs carros movidos a combustíveis fósseis, e concluíram que a alternativa é mais limpa - mesmo no pior caso, em que a energia elétrica fosse gerada pela queima de carvão! Para quem quiser conferir a matéria (em inglês): http://www.smartplanet.com/blog/intelligent-energy/electric-vehicles-cleaner-than-gasoline-anywhere/15002?tag=nl.e660